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Oftalmocurso blog

INTRODUÇÃO

Nesse artigo vamos apresentar os wavefront aberrometers (aberrômetros por frente de ondas), tecnologia atual que permite entender os mecanismos ópticos de cada paciente de forma personalizada e, consequentemente, melhorar os resultados de cirurgias de catarata com lentes multifocais e tóricas

Para oferecer aos seus pacientes o melhor resultado possível, os cirurgiões de catarata atualmente devem ter claro entendimento sobre o que define qualidade visual. O objetivo é garantir boa performance visual para longe, perto e em variadas condições de luminosidade.

A qualidade visual é determinada por uma série de fatores e medidas incluindo acuidade visual, sensibilidade ao contraste e aberrometrias. Novas tecnologias vêm sendo desenvolvidas para nos ajudar a mensurar todas essas particularidades.

ENTENDENDO AS ABERROMETRIAS

As aberrometrias são a fonte mais importante de prejuízo da qualidade visual constituindo grande parte das queixas pós-operatórias. Aberrações são consequências de desvios de um sistema óptico produzindo borramento da imagem, já que cada ponto do objeto não converge para um único ponto na retina. Esses desvios dos raios luminosos podem acontecer na superfície corneana, no cristalino ou LIOs (lentes intraoculares) ou em outros meios intraoculares.

Tradicionalmente o que se avalia e se trata são as aberrações de baixa ordem, como miopia, hipermetropia e astigmatismo. As aberrações de alta ordem são mais complexas e não podem ser corrigidas pelos meios tradicionais como óculos, lentes de contato e cirurgias convencionais.

O cirurgião deve saber compreender esses sintomas e, principalmente, definir em que estrutura intraocular está ocorrendo os desvios que geram aberrações. Dessa forma, poderá compreender se a aberração é passível de correção e agir diretamente nesse local. A seguir, um esquema para orientação em relação às aberrometrias:

 • Blur (borramento) e visão dupla: causado por COMA  Origem do COMA:  1) Córnea: ablação descentrada, ceratocone, topografia assimétrica  2) LIO inclinada ou LIO tórica descentrada

 • Glare, halos e miopia noturna: causado por ABERRAÇÕES ESFÉRICAS  Origem das ABERRAÇÕES ESFÉRICAS:  1) Córnea: zona de ablação pequena  2) Lenticone

 • Starburst e aberrações em forma de cometa: causado por TREFOIL  Origem do TREFOIL:  1) Cirurgia refrativa prévia  2) Capsulorrexe descentrada

WAVEFRONT ABERROMETERS E VISÃO PREMIUM

Aberrômetros são atualmente as ferramentas mais importantes para estimar as condições do sistema óptico ocular possibilitando a compreensão, quantificação e correção dos erros causadores de aberrações. Os aberrômetros iTrace (Tracey Technology) e OPD-Scan III (NIDEK) são atualmente os mais utilizados. As próximas considerações serão baseadas nesses aberrômetros e suas aplicações na prática clínica e cirúrgica.

Integrando um topógrafo de córnea e um aberrômetro de frente de ondas, esses aparelhos conseguem isolar e analisar cada estrutura óptica ocular. Além disso, possuem outras funções como autorrefrator, auto-ceratômetro, pupilômetro, cálculo de ângulos kappa e alpha, entre outros.

A tecnologia para detecção de aberrações consiste em enviar um feixe de luz com dezenas de raios infravermelhos através da pupila. O aparelho detecta o padrão formado por esses raios na retina e através da análise desse padrão, consegue mensurar as aberrações.

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Figura 1: OPD-Scan III, iTrace e como funciona o Ray Tracing

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Figura 2: Padrão retiniano dos raios encontrado em um paciente emétrope (esquerda) e míope (direita). Como pode ser observado, no paciente míope não há foco.

Vamos abordar agora as utilidades práticas que essa nova tecnologia pode nos proporcionar: origem da aberração, escolha ideal da lente, planejamento de lente tórica, melhora do uso de lentes multifocais e avaliação de queixas pós-operatórias

Definir se a aberração tem origem corneana ou lenticular

Mapas de frentes de ondas demonstram a origem da aberração. O que ajuda na escolha da melhor estratégia para correção da visão.

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Figura 3: iTrace: mapas de frente de ondas do sistema óptico interno (diagrama à esquerda superior), da córnea (diagrama à esquerda inferior) e total (diagrama à direita superior). Pela análise dos três concluímos que a aberração se deve a um problema no sistema óptico interno, provavelmente com a LIO implantada.

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Figura 4: OPD-Scan III: 1)Irregularidade do sistema óptico separada em total, corneana e interna. 2) Mapa visual da retina, demonstrando onde os raios luminosos se projetam e qual estrutura (córnea ou sistema interno) é responsável pela aberração. Pela análise dos mapas concluímos que aberração deve-se ao sistema óptico interno, provavelmente com a LIO multifocal implantada.

Determinar a escolha da LIO ideal

O estudo segmentado do sistema óptico auxilia na escolha da melhor LIO para cada paciente. Por exemplo, pacientes com uma alta aberração corneana, não possuirão visão Premium apenas com a cirurgia de catarata, mesmo com o implante ideal de lentes especiais. Portanto, a indicação de lentes Premium deve ser criteriosa nesses casos.

Planejamento de cirurgias com lentes tóricas

O desvio de um grau no eixo da LIO tórica determina redução de 3% do poder da lente. Um desvio de apenas dez graus, portanto, determina queda de 30% da correção. A precisão é, portanto, indispensável no implante de uma LIO tórica.

Os aberrômetros atuais são muito úteis, portanto, tanto no pré quanto no pós-operatório com LIOs tóricas. No pré-operatório, fornece um mapa com a posição ideal da LIO e das incisões. Já no pós-operatório, fornece de forma precisa a localização da LIO auxiliando-nos a decidir por intervir ou não em casos em que o objetivo de diminuição do astigmatismo não foi atingido.

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Figura 5: Workstation cirúrgico obtido através do iTrace e do OPD-Scan III

Melhorar os resultados com uso de lentes multifocais

Conhecer o ângulo alpha, distância entre o eixo visual e o centro do limbo, ajuda o cirurgião a prever como a lente multifocal irá alinhar-se opticamente com o eixo visual do paciente. Um ângulo alpha grande pode indicar que a lente talvez não se centralize idealmente com o eixo visual.

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Figura 6: Alinhamento do sistema óptico

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Figura 7: Eixo visual em vermelho. Ângulo kappa em verde (distância entre o eixo visual e o centro da pupila). Ângulo alpha em azul (distância entre o eixo visual e o limbo, que equivale ao centro do saco capsular).

Disfunção da LIO no pós-operatório

Permite identificar através de um display específico onde está a causa para a queixa do paciente em seu pós-operatório. Em muitos casos, o paciente possui uma cirurgia de catarata bem sucedida, análises satisfatórias da córnea e retina e, ainda assim, queixa aberrometrias. Os aberrômetros conseguem documentar, portanto, a disfunção da LIO, sendo exame de grande valia antes de se realizar uma explantação.

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Figura 8:iTrace: Nesse display observa-se a visão experimentada pelo paciente separadamente oferecida por cada sistema óptico. Dessa forma, identificamos as lentes disfuncionais de forma rápida e simples, facilitando a decisão de uma possível explantação de LIO.

CONCLUSÃO

A tecnologia de frente de ondas, promete contribuir imensamente na melhora da qualidade da visão por meio de cirurgia de catarata e refrativa. A grande vantagem é individualizar e personalizar a medida e correção das aberrações ópticas. Em conclusão, podemos dizer que o tratamento guiado pela frente de ondas está a caminho da realidade clínica e cirúrgica do oftalmologista para corrigir não somente miopia, hipermetropia ou astigmatismo, mas também as aberrações de alta ordem. Hoje os pacientes querem se livrar dos óculos e lentes de contato e esperam qualidade visual em diferentes distâncias, após a cirurgia; mas quanto tempo levará para os pacientes desejarem visão além do normal, a “supervisão”?

AUTORA

imgGabriella Lopes: - Residente de Oftalmologia da Santa Casa de Belo Horizonte

Referências
1) WEBSITE: www.traceytechnologies.com
2) WEBSITE: www.nidek.com
3) GÓMEZ, Principles and Clinical Applications of Ray-Tracing aberrometry/ Alfredo Castillo et al. Hospital Universitário Quirón, Madrid, Espanha
4) JANKOV M, MROCHEN M, SEILER T. Frente de ondas (wavefront) e limites da visão humana/ Augenklinik, UniversitatsSpital Zurich, Suíça. Departamento de Oftalmologia da Santa Casa de São Paulo, Brasil

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